João Gomes em entrevista à Revista Agrotejo

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João Gomes em entrevista à Revista Agrotejo fala-nos sobre o Turismo Equestre e as conclusões do recente estudo que a Moneris realizou para a ANTE (Associação Nacional de Turismo Equestre)

Revista Agrotejo2018

O Turismo Equestre em modo Start-Up

A Associação Nacional do Turismo Equestre – ANTE – apresentou recentemente na Golegã, o Plano Estratégico para o Turismo Equestre de Portugal (PETUR), sendo que este engloba a caracterização e Avaliação das Medidas de Competitividade do Turismo Equestre Português. Ora, neste momento as entidades que se dedicam verdadeiramente a este tipo de turismo são escassas, o que não impede, que as poucas existentes apresentem um padrão de serviço e de intenções bastante estruturado e devidamente alicerçado. Contudo, a realidade do nosso turismo equestre poder-se-á comparar a uma “start-up”, em início, cheia de ambição e com todas as condições para progredir e se tornar uma estrela.

Antes de mais importa, perceber que este tipo de turismo é associado à natureza e a actividades desenvolvidas ao ar livre. Mas é muito mais do que isso, é, seguramente, detentor de um enorme potencial a vários níveis. Podemos dividi-lo em dois grandes blocos – o Turismo a Cavalo e o Turismo do Cavalo. O primeiro quando se desenvolve, pelo turista, a prática de equitação, ou quando as deslocações implicam o uso do cavalo, por exemplo: lazer e turismo ativo a cavalo, circuitos específicos e cursos de equitação. O segundo engloba todas as atividades ligadas ao mundo equestre, sem que se desenvolva pelo turista a prática da equitação, como sejam, feiras, romarias, exibições temáticas, eventos hípicos desportivos, tauromaquia, entre outros.

O nosso panorama equestre está intimamente, e desde sempre, ligado ao cavalo lusitano e a antigas casas agrícolas e coudelarias, que eram e ainda o são, imagens de marca de um Ribatejo e Alentejo iminentemente agrícolas e com uma entidade extremamente enraizadas em costumes e tradições. Para além destas regiões, existem alguns clusters, como é o caso de Ponte de Lima, que tem no cavalo um expoente de identidade e de alicerce de atividade económica local e regional.

Portugal apresenta hoje condições base ideais para o desenvolvimento do turismo equestre e dos seus ecossistemas rodeantes, assentes em 4 Raças autóctones, incluindo o cavalo Puro Sangue Lusitano (existem mais de 300 criadores), com mais de 5.000 anos de história e reconhecido internacionalmente, clima, gastronomia e vinhos, hospitalidade das suas gentes, variedade e diversidade de paisagens, infraestruturas, assim como um património histórico e cultural inigualável. A tudo isto, acresce uma recente preferência por Portugal como destino turístico, premiado com vários prémios internacionais, com preços e qualidade dos serviços altamente competitivos.

Não será de todo errado, afirmar que o turismo equestre poderá funcionar como um polo de atração para um tipo de turismo com uma capacidade económica acima da média, o que por si só já será uma fonte de receitas importante. Ora, mas não podemos escamotear o facto de este tipo de operação puder acima de tudo vir a servir de alavanca e ou de suporte às coudelarias e agricultores que mantêm esta atividade inserida na sua exploração agrícola, potenciando as vendas de equinos e também obtendo sinergias que lhes permitam usufruir de canais de escoamento e de entrada de divisas.

O turismo equestre tem de ser entendido como um produto ancora no âmbito e no seio do turismo em Portugal. Para tal, todas as entidades presentes no setor, e com ambição e interesse no mesmo, deverão interiorizar a ideia de que este plano só terá sucesso com uma ação concertada e unida entre todas elas, sejam entidades públicas, incluindo o Poder Local, ou entidades privadas. Para tal, será necessário desenvolver e potenciar a oferta do Turismo Equestre como Produto e desenvolver a respetiva Marca, respondendo assim às exigências do turista que nos procura: identificação de Turismo de referência, criação de uma rede de itinerários Equestres devidamente sinalizada e autenticada por guias públicos (neste momento totalmente inexistente), criação de site agregador de informação e exclusivo à dinamização e disponibilização de informação do cavalo e do cavaleiro, sendo que por outro lado, inovando através da disponibilização de suporte informático, seja um Guia de boas práticas, sinalética de itinerários, guia de classificação e certificação de locais para Turismo Equestre e definição de um plano de marketing internacional.

A classificação e certificação são de facto estruturantes, sendo que permitirá distinguir e dar garantias aos turistas da qualidade e infraestruturas que vão encontrar, o que por si só é desde logo um sinal estruturante da qualidade do produto oferecido e de todos os serviços circundantes. Mas no fundo, a promoção internacional do Turismo Equestre Português juntamente com o apoio aos agentes económicos, a implementação de boas práticas comerciais internacionais e o potenciar das capacidades per si existentes será a base deste plano estratégico.

Este traduzirá as nossas forças, materializando-as em aumento de turistas e reforço da nossa economia, podendo ser uma alternativa ou uma alavanca para a actividade agrícola tradicional de alguns proprietários, criadores e agricultores, sem esquecer que este turismo é praticado maioritariamente por senhoras de países do norte da europa. É imperativo por outro lado, não esquecer em momento algum as nossas fraquezas, como sejam, a reduzida exposição internacional, ausência de uma marca, fraca cooperação entre as entidades, inexistência de rotas e itinerários equestres e formação/disponibilidade de recursos humanos especializados.

Registe-se ainda, que várias ameaças pairam sobre o sector, nomeadamente, a cultura focada no cavalo e avessa à mudança para o Turismo e a ausência de objetivos comuns nas diferentes Entidades do sector.

Assim, e para que o Turismo equestre não seja visionado como um parente pobre do Turismo, é necessário alicerçar as bases, unir os atores e transmitir ao mercado internacional um produto comum de alta qualidade e norteado em busca da satisfação do cliente final. Como é óbvio, tudo isto deverá ser encarado como uma pedra na fundação de algo mais profundo, que visa não só criar um produto turístico especifico, mas também, implementar sinergias que permitam aos criadores potenciar os seus negócios agrícolas e pecuários, fazendo do setor a base de sustentabilidade da economia das regiões onde se encontram inseridas.

Concluo, deixando a ideia de estarmos perante um desafio estruturante e ambicioso, o qual se encontra na sua fase embrionária, necessitando da ajuda de todas as entidades envolvidas para que a sua concretização seja uma realidade, assente na tradição, história e ao mesmo tempo inovando num trilho de sucesso.

João Gomes

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