Que tendências no mercado de fusões e aquisições esperam com abertura da economia?

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João Nunes, Assistant Manager Moneris, escreve no especial “fusões e aquisições” do Jornal Económico. Neste fórum vários especialistas da área respondem ao panorama de desconfinamento e as tendências e otimismo que está a trazer ao mercado.

No radar estão, por exemplo, empresas que beneficiem quer diretamente do Plano de Recuperação e Resiliência, quer como fornecedores e prestadores de serviços ao Estado.

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O mercado internacional de fusões e aquisições, tem apresentado uma performance assinalável nos últimos anos, catapultado, também, por um comportamento positivo dos mercados bolsistas, não sendo exceção o mercado português, que assistiu a algumas transações de relevante dimensão, à escala nacional, e em diferentes setores de atividade.
Em 2020, porém, com o espoletar da atual crise pandémica, assistiu-se a uma queda significativa do número de transações. No entanto, no segundo semestre o mercado reagiu e, imprevisivelmente, deu sinais claros de recuperação, no âmbito e face ao atual contexto.

No que concerne ao ano de 2021, no mercado de fusões e aquisições, perspetiva-se que empresários, gestores e empresas tenderão a ser mais resilientes, por forma a estarem melhor capacitados para resistir a crises e incertezas futuras. Assim, é provável que venhamos a assistir a um crescimento no número de transações, focadas na diversificação de negócios e/ou de setores de atividade e com propósito de obtenção de maior e melhor robustez a diferentes níveis. Contudo, a recuperação não se afigura fácil e as incertezas quanto ao futuro mantêm-se.
Os desafios são enormes, e muitos deles não são “controláveis” nem mensuráveis quando da tomada de decisão relativa a transações ou a oportunidades que o mercado venha a gerar.

Com a ainda recente tomada de posse da nova administração governativa nos EUA, não se afigura ainda uma alteração da posição isolacionista daquela potência económica, uma vez que a envolvente macroeconómica e geopolítica mantêm-se muito centradas nas tensões com a China, o que dificulta políticas mais expansionistas e propicias aos mercados internacionais, verificando-se a manutenção do alinhamento das economias emergentes com o país asiático e a Europa ainda “indecisa”. Ora, tal não propicia o desenvolvimento ágil de um mercado transacional “ativo”, limitando-o, não só no que concerne a transações de alto nível, mas também a todas as demais.

Transversalmente a todas as economias e geografias, mantém-se o enorme desafio da mitigação da atual pandemia assim como das respetivas consequências de natureza sanitária, económica e social, e que, apesar de todos os esforços desenvolvidos pelos diferentes países ao nível dos apoios governamentais a empresas e famílias, é imprevisível ainda estimar com fiabilidade as reais consequências no curto e médio prazos no que diz respeito, em particular, à solvência do tecido empresarial, com especifica incidência em alguns setores de atividade.

Muitas empresas desses setores mais afetados já operaram processos de restruturação acelerados, de desinvestimento ou de descontinuação de operações e terão atingido um estágio de inflexão. Por outro lado, verificou-se uma alavancagem nas taxas de utilização de meios digitais no que diz respeito a transações comerciais e a trabalho remoto, o que se poderá traduzir em oportunidades transacionais que poderão impulsionar a atividade de fusões e aquisições em setores como os das TI ou da denominada “economia verde”.

Com o aumento do uso de tecnologias digitais durante a pandemia, os critérios para negociação e transação podem significativamente mudar, com o fator geografia a perder paulatinamente a relevância que detinha até agora. A consequência desta abordagem para mercado das fusões e aquisições em 2021 e anos seguintes podem ser relevantes.

Notar ainda que as consequências do Brexit na atividade de fusões e aquisições a nível mundial não são ainda evidentes, pese embora o acordo alcançado entre o Reino Unido e a União Europeia em dezembro ultimo, que garante a continuidade do comércio livre de tarifas, pelo que a mesma não está livre de volatilidades no momento da decisão de investir ou transacionar.

Contudo, tais volatilidades devem ser encaradas como um desafio e uma oportunidade no desenvolvimento de processos de fusões e aquisições. Finalmente, referir que as partes envolvidas em processos transacionais não devem, desde já, admitir que a “tempestade” já passou, pelo que se impõe prudência, critério e reflexão, para que a tomada de decisão seja assertiva e não precipitada. Aliás, como sempre deve ser!

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