Pedro Neto, Parter Corporate Finance Moneris, numa entrevista para o Jornal de Leiria aborda a questão dos processos de internacionalização portugueses. Os seus desafios e oportunidades.
Portugal está de facto a ter uma estratégia adequada em termos da internacionalização?
A aposta de Portugal no desígnio do incremento dos processos de internacionalização e conse-quentemente no volume de exportações tem tido excelentes resultados, que são visíveis nos no acréscimo por exemplo entre 2005 e 2018, onde as exportações nacionais passaram de 27% para 44% do PIB, e, de acordo com as pro-jecções do Banco de Portugal, em 2021 o objectivo cifra-se nos 50% do PIB.
Este é pois o único caminho que Portugal deve seguir, em virtude das economias estarem cada vez mais interligadas, onde, quem não está glo-balizado, mais facilmente será “ultrapassado” e estará “fora de mercado”, tanto mais que Por-tugal, tendo um mercado interno extrema-mente diminuto, se não olhar para as exporta-ções como parte da estratégia de sustentabilidade do negócio, poderá ser “fatal”.
Contudo, estes valores estão muito sustenta-dos na necessidade que as empresas sentiram em “sair” de Portugal, na crise de 2009, bem como no incremento da intensidade turística. Estes factores terão que ter continuidade sus-tentável, pois caso não aconteça, poderemos correr o risco de haver um declínio da intensi-dade exportadora.
Aqui, Portugal tem que apostar claramente em áreas que ainda estão muito aquém do neces-sário, que é a aposta clara da Marca “Portugal”. Isto far-se-á não só através de ações que têm vindo a ser levadas a cabo por alguns organismos, associações e operadores económicos, mas também pelos governantes, dando exem-plos e sinais claros à comunidade internacio-nal que Portugal é um país sério e profissional. Os apoios no âmbito do
Portugal 2020 para a promoção da internacionalização são os adequados?
De forma genérica, os apoios enquadrados no âmbito do Portugal 2020 são adequados, quer ao nível da tipologia de ações enquadráveis (fei-ras, missões comerciais e ações de prospecção de mercado e de marketing), bem como no que respeita aos montantes financiados.
Contudo, existiram inicialmente alguns atrasos ao nível de aprovações (nesta reta final do qua-dro comunitário tem sido colmatadas de for-ma célere) e de fluxos financeiros, que dificul-taram algumas das estratégias a levar a cabo por diversos operadores económicos.
Qual o papel das Associações e Câmaras de Comércio neste desígnio?
Estas entidades permitirem por exemplo que as empresas que participam nos seus projectos o acesso privilegiado a alguns agentes e operado-res nos mercados onde levam a cabo as ações, o que por vezes é de difícil, de forma individual.
Por outro lado, conseguem de alguma forma desenvolver uma estratégia conjunta, alavan-cando as ações individuais das empresas, para um patamar de imagem corporativa, onde a marca “Portugal” é efectivamente o desígnio. A par de outras vantagens destes organismos nos processos de internacionalização, e dada a sua experiência, conseguem colmatar algumas fragilidades que alguns agentes económicos possam ter, quando da abordagem a mercados externos, como é o caso de algum desconheci-mento do mercado, da forma de negociar, da forma de desenvolvimento de parcerias, ou mesmo na operacionalização da exportação efectiva.
As empresas estão preparadas para os processos de internacionalização?
A maturidade das empresas tem vindo a crescer de forma exponencial, no que respeita à sua preparação para processos internacionais, quer seja de internacionalização efectiva, quer seja somente ao nível das exportações.
Contudo, e fruto um pouco do tipologia da estrutura das empresas portuguesas (principalmente ao nível de fragilidades inerentes de baixos níveis de integração de pessoal qualificado, de capi-tais próprios frágeis, de uma gestão essencial-mente assente na estrutura familiar, entre outras), ainda existem muitos desafios.
Assim, as empresas têm que se consciencializar que, pese embora nos possamos intitular de “aventureiros”, essa faceta e característica, essencial na época dos descobrimentos, já não se pode aplicar nos tempos de hoje, pois as variá-veis são muito diferentes e bastante mais com-plexas.
Num mercado global, trabalhar em rede (outro fator em que Portugal tem défice cultural) e com base em parcerias, é essencial e fator crítico de sucesso.
A escolha dos mercados é feita de forma adequada?
Muitas empresas vão ainda para os mercados sem uma estratégia definida, imperando ainda a “estratégia da formiga”, ou seja, ir para onde os outros estão a ir e embarcando em histórias. Ainda se constata que a principal estratégia está assente em pontos como “o mercado está a dar, vamos lá!”; “é mais fácil, pois falam a nossa lín-gua!”…, descorando muitas vezes temas diver-sos, como é o caso do risco-país, da legislação local, dos riscos de não pagamento, das remes-sas de lucros, dos riscos logísticos, entre outros. Ora, sendo efectivamente pontos que são váli-dos para o desenvolvimento de uma estratégia de internacionalização, não serão certamente os únicos a ter em consideração, pois por vezes poderá ser mais correto ir para outros merca-dos onde por exemplo não exista ainda tantos operadores económicos, ou para outros onde o nosso produto seja mais adequado, em ter-mos de penetração no mercado. Pode ser mais difícil, mas a vida normal de uma empresa tam-bém já não fácil pelo que, ter-se-á que encarar como mais um “dasafio”, e para o qual temos que estar bem preparados e qualificados, pois internacionalizar também “sai caro!”.
De que forma poderíamos ter empresas mais competitivas para ações de internacionalização?
De acordo com a experiência vivida, pode ser simples, passando primeiro por as empresas perceberem que é necessário estarem abertas a opiniões profissionais “de fora”, apoiando assim a definição da estratégia e implementação do processo de internacionalização.
Segundo, definir o investimento necessário ao processo, desde a qualificação dos seus recur-sos humanos, à adaptação dos produtos e ser-viços aos mercados, bem como á forma de entra-da nos mercados, que pose ser variada, podendo passar por modelos de franchising, joint ven-tures, ou investimento direto, onde os riscos, de cada um, serão certamente distintos.
De que forma a Moneris tem vindo a apoiar os desígnios da internacionalização?
A Moneris tem vindo a apoiar os processos de internacionalização quer de forma direta às empresas, quer através de projectos desenvol-vidos por Associações e Câmaras de Comércio. Este apoio muitas das vezes está circunscrito à simples elaboração e acompanhamento das candidaturas ao Portugal 2020, ou, em muitos dos casos que temos vindo a acompanhar, no acompanhamento direto aos processos de inter-nacionalização, passando por:
• Definição dos planos estratégios;
• Desenvolvimento de estudos de mercado
• Plano de marketing
• Visitas aos mercados, no sentido de perceber, in loco, as práticas comerciais e oportunidades existentes;
• Desenvolvimento ou participação em mis-sões comerciais, com realização de reuniões B2B, por forma a se poder estabelecer as par-cerias ou interações comerciais;
• Processos de procura e seleção de parceiros ou distribuidores nos mercados, caso seja essa a estratégia;
• Participação em feiras ou certames; ou
• Desenvolvimento de sessões de apresenta-ção nos mercados;